A
Bruxa de Christchurch
As
histórias eram muitas e em sua grande maioria, aterrorizantes. Por mais que as
intenções de um bruxo fossem boas, ele não seria aceito pela sociedade,
especialmente em Christchurch, Nova Zelândia. Ninguém gostaria de bater
defronte de um bruxo nas ruas da cidade. Numa época antiga, alguns séculos
atrás, bruxos eram criaturas odiadas por todos.
Susan
Fettin é uma bruxa poderosa, amável e confusa sobre si. Bruxos são bem mais
parecidos com os civis do que todos imaginam, são separados apenas pela
barreira do poder. Existiram bruxos maus e bruxos bons, mas para os moradores
de Christchurch bruxo bom é bruxo morto. Devido às circunstancias Susan decidiu
não ser má. Não lhe agradava a ideia de tomar proveito de suas habilidades
sobre as pessoas comuns, ou alimentar seus desejos com magia. Ela queria ser
“normal”.
Susan
adorava crianças, então, para esconder sua real natureza, aceitou um emprego
como babá de duas crianças. Passou a trabalhar para os Walker, uma família bem
sucedida e influente na cidade. Moravam em uma pequena fazenda nas extremidades
de Christchurch. Uma das crianças se chamava Tony e tinha apenas cinco anos de
idade. A outra criança se chamava Lily, uma linda garotinha de apenas um ano. A
família era um tanto conturbada. Os pais, o Sr. Jhon Walker e a Sra. Mariah
Walker, apenas se preocupavam com o seu trabalho, tinham alguns pontos
comerciais espalhados pela cidade. Não davam muita atenção aos seus filhos,
embora não faltasse amor e afeto. As crianças passavam dia e noite com Susan.
Elas a amavam, amavam mais até que aos seus pais. Tony passou a chamar Susan de
mãe, se alguém perguntasse a Tony de quem ele gostava mais ou com quem
preferiria estar, certamente ele responderia mamãe, ou seja, Susan.
Para
Susan foi fácil conquistar as crianças. Bruxas eram criaturas instáveis, por
mais que não gostasse da ideia de utilizar seus poderes para ter vantagem, ela
sempre fazia truques ou agradava as crianças com magia. Um brinquedo ou uma
comida saborosa era só pensar, fazer alguns gestos, recitar palavras e pronto.
-
“Mamãe, mamãe”! – disse Tony eufórico – quero um doce!
-
Arrumou a cama hoje? – Perguntou Susan carinhosamente enquanto colocava a
frauda de tecido em Lily.
-
Sim, mamãe! – Respondeu ansioso.
-
Então tudo bem! – Ao lado de Lily, que estava deitada sobre uma mesa, Susan
gesticulou rapidamente e recitou uma frase em algum idioma antigo. Surge então
um pequeno prato de louça com um delicioso pedaço de doce de morango.
-
Aqui está – posicionou-se defronte ao garoto estendeu a mão, entregou o doce,
em seguida curvou-se e o beijou na testa.
Susan
amava as crianças mais que a se mesma, daria sua vida por qual quer uma das
duas. As crianças igualmente a amavam, a obedeciam e recorriam primeiramente a
ela sempre que desejavam algo. Os pais eram um tanto “estranhos” para Tony e
Lily. Esse “amor” passou a incomodar intensamente Mariah e Jhon, as crianças
não mais retribuam o carinho e o afeto da forma que era de se esperar que
filhos tratassem os pais.
Mariah
e Jhon eram egocêntricos e gostavam da atenção voltada para eles. Quando os
filhos passaram a tratá-los com descaso, Mariah sentiu-se ameaçada, então
decidiu passar mais tempo em casa, com as crianças. Ela queria diminuir o amor
incomodo que as crianças sentiam por Susan.
Certo
dia, por volta do fim da tarde, Susan foi passear com Tony, Lily ficou com
Mariah em casa. Mariah a pôs pra dormir e foi observar a casa. Ao passar pela
cozinha próximo aos aposentos de Susan, ela encontrou um livro marrom de capa
dura, aparentemente um livro bem velho. O livro estava bem próximo aos
aposentos de Susan, provavelmente colocou lá por descuido.
-
Há! – Espantou-se Mariah ao ler a contra capa do livro – “O livro das Bruxas”.
O
livro estava repleto de símbolos estranhos e palavras em línguas diferentes. -
Não pode ser! Susan é uma bruxa.
Não se
tinha relatos de bruxos, magos ou criaturas do tipo há muito tempo em Christchurch.
Ela ficou pálida, não podia acreditar que uma bruxa estava responsável por seus
filhos. Ela respirou fundo, ouviu o som de passos. Virou-se com o livro na mão.
Lá estava Susan, parada, fitando-a. Mariah se assustou ao vê-la, o pouco de cor
que restava em seu rosto desapareceu. Susan ao perceber o livro nas mãos de
Mariah se assusta, arregala os olhos e alterna rapidamente o olhar entre os
olhos de Mariah e o livro em suas mãos.
-Você... Você é uma bruxa? Perguntou
Mariah gaguejando e aterrorizada.
Ambas
ficaram em silêncio. Uma encarava a outra.
- Fora da minha casa, demônio! –
Vociferou alterando a expressão de sua face.
Susan não
sabia o que fazer. Poderia usar magia e controlar a situação, mas preferiu
fugir. Saiu correndo da casa sem rumo, estava confusa.
Alguns minutos depois, as pessoas
atacaram à casa de Susan, que se localizava na rua paralela a fazenda dos
Walker, a notícia havia se espalhado muito rapidamente. Todos os seus objetos
pessoais, livros, frascos e outros foram lançados numa fogueira montada em
frente a casa. Estava destruída, restavam apenas algumas paredes levantadas.
- Fora de nossa cidade, demônio! –
Gritou um dos que atacavam a casa.
Durante
semanas, meses Susan foi perseguida, atacada, sua vida tornou-se insustentável.
Contudo ela não foi capturada.
Tempos depois, Mariah encontrou um
bilhete próximo de sua casa. “Você destruiu minha vida, espero que goste da
dor”. O recado estava escrito em um papel velho, manchado e sujo! “Susan”
pensou Mariah. O desespero tomou conta do seu corpo, correu para dentro da casa
e mostrou o bilhete a Jhon tremendo.
- Vamos ter que sair da fazenda. –
disse Jhon aflito – da cidade... Vou resolver algumas pendências e amanhã
viajaremos.
Embora Susan fosse de boa índole, quando
contrariada poderia simplesmente ignorar seus valores caso isso lhe convier no
momento. Assim fez. Ela queria estar com as crianças e iria fazer de tudo pra
que isso acontecesse.
Mariah e Jhon Walker pretendiam
fugir no dia seguinte. Estavam assustados, mas não sabiam que o dia seguinte
era tarde de mais.
A noite chegara. As crianças estavam
dormindo. Mariah terminava de arrumar as malas. Jhon trocava de roupa, pois
acabara de sair do banho. Os dois ouviram um barulho estranho vindo da cozinha.
Mariah virou-se para fitar Jhon.
- O que foi isso?! – Perguntou
Mariah extremamente assustada.
- Não sei, vou ver. Fique aqui. - Disse
Jhon determinado, porém com medo.
Jhon
desce do seu quarto que ficava no primeiro andar da casa. Mariah escuta um
grito alto e rouco. Era Jhon. Ela entra em pânico. E Corre para o quarto das crianças
que fica no mesmo andar. Tranca a porta e aguarda aflita. Ela ouve um leve som
de passos. Surge um brilho na fechadura, a maçaneta gira e a porta abre
lentamente. Mariah está a ponto de um infarto. Ela pega as crianças, que acabam
acordando e começam a chorar. Surge Susan de olhos negros e de má expressão.
- Se arrependerá por tudo que me
fez. Disse Susan com uma voz assombrosa.
Antes que Mariah pudesse dizer
alguma coisa, Susan estende a mão e começa a falar em uma língua estranha.
Movimenta os braços e mãos lentamente. Mariah grita alto de dor, solta as
crianças e começa a levitar. Senti-se sufocada, suas veias tornam-se visíveis.
As crianças choram dramaticamente. Mariah começa a sangrar, Susan continua a
falar em outra língua e gesticular, agora com mais velocidade. Mariah grita bem
alto e cai dura no chão. Está morta.
A fisionomia de Susan volta ao
normal. Ela se aproxima das crianças, que choram mais suavemente em gemidos.
- Vamos sair daqui? – Perguntou
Susan, sorridente, com uma voz doce e delicada, agachada em frente às crianças.
Tony ainda assustado balança a cabeça positivamente. Ela pega Lily no braço,
segura a mão de Tony e vai embora.
Nunca mais se ouviu falar de Susan
ou das crianças!
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