12 Horas Para Sobreviver: O Ano da Eleição
Lançamento: 06/10/2016
Elenco: Frank Grillo, Elizabeth Mitchell, Mykelti Williamson, Terry Serpico, Joseph Julian Soria
Diretor: James DeMonaco
Distribuidora: Universal Pictures
Nota: ★★
Crítico: Paulo Teixeira
Vou fazer uma proposta aqui: Essa resenha vai ter duas partes. A
primeira parte é pra você, amigo de bem, moça trabalhadeira, pessoas não
binárias e de gênero fluido e seus respectivos pets que buscam um filme apenas
para se divertir e se desconectar com o mundo lá fora. (ok people, não levem
seus pets no cinema, ok? Ok.) Pra você, o papo é reto: 12 Horas Para
Sobreviver: O Ano da Eleição – ou pra deixar mais simples, The Purge 3 – é um
filme divertido sim. Dá pra você gastar umas duas horas da sua vida descerebrando
assistindo o filme que, embora não seja lá um primor das obras de thriller de
ação (um resquício da era dos filmes de Black Exploitation, onde os nigga
mandava bala pra tudo que é lado e um festival de sangue, gore e frases de
efeito pulavam em cima de você mesmo sem 3D) é bacanudo, tem cenas chamativas,
algumas gags divertidas e um plot bem promissor. É o terceiro da série, mas
você pode assistir sem ter visto os dois anteriores tranquilo – como eu fiz –
que a história é redondinha e compreensível. Dessa nova leva de filmes que se
propõe a uma ação chocante e longe do mainstream dominado pelos filmes de
heróis – quase o meio de campo entre filmes A e B – serve um resultado
chamativo e que pode te cativar bastante durante sua hora no cinema. Esse é o fim
da primeira parte da resenha. Se suas respostas foram respondidas aqui, você
pode largar a resenha agora. Manda aquele like generoso e compartilha pros
amiguinhos da rede social, ok? Porque na segunda parte, a coisa fica mais
séria. E a resenha, mais violenta.
Vou colocar aqui bem claro os pontos de vista que norteiam minha
crítica: Eu não sou um estudante – ou estudioso – do cinema. Não estudei nenhum
curso técnico, profissional ou superior da área. Eu sou gente como a gente.
Minha opinião é simplesmente a opinião de quem viu muito filme, sabe mais ou
menos como são feitos e como poderiam ser feitos, e principalmente, escritos. Os pontos que me estimulam a falar bem ou
mal de um filme são: Diversão proporcionada (em 1º lugar absoluto), qualidade
da produção, trilha sonora, qualidade de roteiro e, não menos importante,
honestidade da proposta. E The Purge 3 é um filme muito, mas muito desonesto.
Desde antes da chance de poder resenhar o filme, o plot já havia me
chamado muito a atenção: Os estados unidos num futuro próximo, no auge de sua
decadência moral, institui uma noite para liberar os demônios pessoais de todos
os cidadãos, a “Noite do crime” (no original, The Purge Night) onde todos os
crimes são permitidos durante 12 horas – salvo os políticos, que não podem até
o começo do filme ser alvo destes – que funciona bem como a “hora do ódio” de
George Orwell (nunca leu 1984? Vá corrigir este erro após a resenha, ok?), uma
catarse profunda que acalma os ânimos dos cidadãos, além de um método eficaz de
estimular a venda de armas e proteção particular. Isso freou uma recessão
americana, diminuiu criminalidade e desenvolveu o país a um custo moral
inacreditável. Daí segue a história. Só numa olhada rápida nós vemos uma boa e
concisa distopia que não precisa apelar para aqueles clichés escrotos – uma
super tecnologia que consegue moldar partículas, mas não dá jeito que
desenvolver plantações e produção alimentar? Qual é né? – e comuns em obras
recentes. Uma critica mordaz a sociedade americana (e porque não, mundial?),
que, em seus primeiros filmes, conseguiu chamar a atenção de uma maneira
deliciosa mesmo sem um orçamento gritante. Uma pérola entre tata bijuteria, que
foge do 1+1 de protagonistas branquelos que salvam o dia, personagens de
minorias clichês e que tem coragem em sua narrativa. E eu realmente caí nessa.
Mas o filme não é isso.
O big deal está dividido no filme inteiro, e você pode facilmente passar
desapercebido da questão. Mas está tudo lá. Começando pela parada mais óbvia: O
protagonismo é descaradamente branco. E o pior disso é tentarem maquiar isso
com personagens cota que conseguem brilhar por alguns instantes na tela, mas
não fazer absolutamente p**** nenhuma o resto do filme. E eu não estou
exagerando. Somos apresentados a uma personagem feminina durona e perigosa que,
após um tiroteio, mal aparece em cena – nem como piloto de fuga. Um chicano que
busca uma nova vida na América, durão e batalhador, mestre do rifle, mas que só
parece disparar umas 3 vezes no filme inteiro. E um “protagonista negro que tem
um passado perigoso” – sendo que a porcaria do passado misterioso surge do
nada, serve apenas em uma cena e absolutamente mais nada que isso. Este mesmo
personagem, diga-se de passagem, parece carregar uma camiseta com seu destino
escrito enquanto despeja um sem número de frases de efeito capengas e
estereotipadas. E não para só no protagonismo – que, na boa, é todo carregado
pelos personagens brancos da trama, Leo Barnes (Frank Grillo, numa carranca
imutável o filme inteiro) e a senadora Charlie Roan (Elizabeth Mitchell, uma
lindeza encarnada que parece estar no filme apenas para correr atrapalhada e
encher o saco de Barnes por motivos não compreensíveis) – A vilania da parada é
em vários momentos empurrada com a barriga, sem profundidade nenhuma. De
paramilitares com bandeiras de “whitepower” (uma alegoria que no filme nunca é
usada de verdade) à jovens revoltadas vestindo minissaia com metralhadoras e
glitter, com direito a russos psicóticos, todos tem a personalidade com a
profundidade de um pires furado. Subutilizados, subestimados, sempre criando
uma tensão que na maioria das vezes não chega a lugar algum.
A direção do filme (James DeMonaco, que também escreve e dirigiu os
filmes anteriores da franquia) também peca feio na escolha da montagem do
filme. Nem tanto pela fotografia – em alguns momentos curiosa e chamativa,
principalmente nas cenas de assassinatos que o grupo presencia de longe, que
misturam constantemente elementos paradoxais como músicas de ballet e gente
morta, em outros confusa e entediante, criando cenas desnecessariamente longas
ou dificultando a compreensão das mesmas. O filme, que em seu primeiro terço se
apresenta como um thriller de suspense, navega trupicando no que deseja ser.
Hora quer ser ação desenfreada – e tem o potencial pra isso – mas corta o ritmo
interminavelmente para criação de sua trama de suspense – apenas para pular o
ritmo mais uma vez entre drama, thriller psicológico, ação de novo e umas
tentativas meio pífias de criar tensão. A cena das schoolgirls do capeta é um
bom exemplo (além de cliché, ligeiramente sexista e incongruente.)
The Purge 3 tinha claramente o potencial de ser muita coisa – e tentou
ser todas elas, não conseguindo êxito em nenhuma. É uma falha enorme que,
aliada a tentativa de se vender como um filme transgressor, mas que no fim
repete um sem número de fórmulas batidas e cansadas, personagens fracos sob uma
maquiagem oportunista de protagonistas secundários e um final trágico
totalmente previsível e que desmerece bastante a experiência. Não que nada no
filme seja bom. Vários elementos interessantes estão presentes; A química entre
Grillo e Mitchell é muito grande e não apela para elementos românticos – balas
voando e nenhuma DR é um prazer de ver – e o argumento do filme é sem dúvida
chamativo e faz pensar. No fim, parece aquele cozido que passou do ponto e
deixou um gosto amargo no final. Uma pena. Deu a impressão que Hollywood estava
pronta pra coisa nova. Mas não foi dessa vez.
Veja o trailer abaixo:
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